Vale S.A. - VALE3

Eu até acredito em queda da demanda por minério de ferro, mas as notícias que chegam da China aqui para o Brasil são extremamente enviesadas. De um tempo pra cá, um monte de gente que até pouco tempo atrás nunca havia ouvido falar em Adam Smith, hoje se declara de direita e fã do livre mercado. E essas pessoas seguem com as "tendências à lá MBL" de só noticiar o que lhes convém, igual a esquerda brasileira sempre fez. A questão das cidades fantasmas é real sim, não questiono, mas não é isso que cria demanda interna na China, até porque, essa notícia não é nova, e várias delas já estão concluídas. As cidades em si foram fomentadas não para criar demanda artificial, mas como uma forma do governo de alocar investimentos privados em cidades que daqui a 15-25 anos serão ocupadas pelos filhos dos camponeses que irão deixar os campos ou pelos aposentados que queiram sair das grandes cidades com seu custo de vida altíssimo. Não estou dizendo que eu concordo, mas é uma estratégia para não favelizar as grandes cidades de hoje, mover parte da população para o interior e aliviar os problemas urbanos nas cidades costeiras causados pelo inevitável êxodo rural.

E porque a iniciativa privada iria investir num imóvel para ficar vazio por tanto tempo? Porque no "pós maoismo" existem limitações para a venda de imóveis antigos já habitados, pois o imóvel nestas condições não é uma mercadoria. Já imóveis novos inabitados, são uma mercadoria, então não estão limitados por restrições de valores de venda. Para a MRV da China faz todo o sentido comprar terra a 200 km de uma cidade maior, onde o preço do terreno é bem mais em conta e vender o imóvel pelo preço que bem entender (e mesmo assim uma fração daquela cidade) do que comprar numa área central de uma cidade cosmopolita e ter que vender só para milionários se quiser pagar os custos de aquisição de um terreno. Para quem quer "investir" em imóveis, a mesma coisa. Essas cidades começaram em meados dos anos 2000, realmente algumas "não pegaram", mas várias outras já melhoraram sensivelmente, indicando que podem sim, serem viáveis no longo prazo.

Por outro lado, pouco se fala nos planos de investimento em estradas e ferrovias da China na Ásia Central. É um projeto de infraestrutura de mais de um trilhão de dólares (e mais 3 a 7 trilhões em infraestrutura complementar). Isso gera demanda. Pouco se fala no incentivo ao armamento naval que está ocorrendo, que é o maior da história da humanidade. Isso gera demanda. Pouco se fala em como a China comprou 80% da África Subsaariana pagando troco de pinga e conseguiram até se instalar em Djibouti, etc...

Antes que digam que eu sou de esquerda, não estou fazendo propaganda do regime chinês, inclusive porque tenho sérias dúvidas se esses projetos podem ser bem sucedidos. Mas se falharem, falharão pelo fato da China ter pego como parceiros comerciais e "aliados", o resto do mundo, incluindo vários povos que o ocidente dispensou exatamente por terem uma mentalidade um tanto atrasada e historicamente não gostarem de ganha-ganha, preferindo eles serem os únicos a ganharem. Porém, em termos de viabilidade econômica, os dados passados pelo governo chinês sugerem serem projetos bem atraentes, mesmo se não houvesse fator estratégico envolvido (ex.: não depender do estreito de Malaca). Considerando a falta de transparência dos chineses, a realidade pode ser outra, mas são os únicos dados que temos.

Para não parecer que eu tirei do vento, vou deixar um link sobre essa atuação com os países da Ásia Central: www.economist.com/china/2016/07/02/our-bulldozers-our-rules mas na internet se acha fácil sobre outros projetos, sobretudo a corrida naval, até porque foi um argumento do Trump para defender um aumento ainda maior do orçamento militar dos EUA.

No caso, dei citação na mensagem do colega apenas porque desejava comentar sobre o tema, apresentando um outro ponto de vista.