Lembro dos meus últimos votos de 1° e 2° turno das últimas eleições para prefeito, governador e presidente e, ainda para senador, deputado federal e vereador.
Deputado estadual, ACHO que me lembro.
Lembrando ou não, não acredito que seja um problema de falta de consciência política, mas sim uma combinação de melhor aproveitamento da memória, baixa representatividade dos eleitos e excesso de instâncias políticas, muitas sem grande utilidade.
Começando pela memória, havendo segundo turno nas votações do executivo, são nove a dez votos para serem lembrados a cada quatro anos (dependendo de ser uma eleição para escolha de um ou dois senadores).
É bastante informação para ser lembrada e o cérebro tende a eliminar parte por uma questão de otimização.
Você se recorda quem foram os quatro primeiros colocados da última copa do mundo? E o campeão brasileiro de 2016? Qual era o seu número de telefone antes do atual? E a placa do seu penúltimo carro?
É possível que se lembre de algumas dessas informações, mas dificilmente de todas, apesar de algumas terem sido do seu interesse ou mesmo muito importantes para você à época.
Sobre o excesso de instâncias, pergunto se você sabe o que é de competência privativa, comum ou concorrente da união, dos estados e dos municípios? Ainda que saiba (duvido a menos que tenha cursado direito e decorado isso para algum concurso que exija este tipo de informação), qual o papel do legislativo no exercício dessas competências? Conhece um único assunto que foi submetido a votação do seu deputado estadual? Ainda que tivesse interesse, teria tempo e disposição para acompanhar tudo o que tramita simultaneamente na câmara municipal da sua cidade, na assembleia legislativa do seu estado, no Senado e na câmara dos deputados? Sobraria tempo para comer, tomar banho e fazer sexo?
Finalmente, quanto à falta de representatividade, como escolheu seu representante? É um conhecido com alguma proximidade ou, mais provável, é apenas alguém que conhece pela tv (ou nem isso), que parece defender ideias que compartilha? Se algum conhecido seu se candidatasse, quais as chances reais de ele ser eleito tendo de se submeter à filiação partidária obrigatória e ter de disputar contra indivíduos que vivem disso e para isso, têm tempo de TV, financiamento público, financiamento privado lícito e ilícito e contam com a máquina pública a seu favor?
Ainda que seu conhecido fosse eleito, qual a chance que teria de acompanhar o trabalho dele de perto e contatá-lo para esclarecer dúvidas se ele representa não apenas você, mas um grupo de centenas de milhares de pessoas e não tem tempo de dar satisfação a nem uma parte ínfima dessas pessoas?
Democracia é um conceito lindo na teoria, mas bastante vazio na prática. Somos governados por pessoas que acreditamos ter escolhido (sem ter verdadeiras opções de escolha), para exercer atribuições que não compreendemos perfeitamente, atuando nos nossos supostos interesses, ainda que nunca nos tenham perguntado quais sejam.
Citando Churchill: democracia é o pior regime depois de todos os outros.