IPOs

Pena que irá virar economia mista, posto que deveria ser totalmente privatizada. Sou grande defensor das empresas públicas, porém, federais, já que as estaduais apresentam todas as desvantagens do modelo de empresas públicas com pouquíssimas ou nenhuma vantagem para o país e sua população.

Quanto ao nióbio, infelizmente ganhou repercussão como mais uma das bandeira dos militares, classe que parece, mesmo entre os altos oficiais, ter ojeriza, um repúdio veemente, uma verdadeira aversão a qualquer atividade de edificação intelectual. Salvo engano, essa foi de autoria do Coronel Gelio Fregapani que posteriormente foi para a ABIN e também foi mentor de outra teoria da conspiração propagada por Bolsonaro: o risco iminente de que os EUA apoiados pela ONU, induzam a secessão de povos indígenas para espoliar as riquezas (??) da Amazônia.

Engraçado que quando os militares estavam no poder era tudo lindo, o Brasil era potência, tínhamos tecnologia de ponta, a população gozava de alto padrão de vida. Na cabeça deles né... seria muito mais honesto assumir que a Amazônia é irrelevante do ponto de vista militar, porque lá não tem um parque fabril relevante. Soldados escondidos na floresta precisam de suprimento que não existe, mas lá pouco existe o que defender para começo de conversa. Enquanto isso, se os EUA realmente quisessem derrotar o Brasil sequer teriam que desembarcar um soldado aqui. Bastariam levar dois porta-aviões com seus strike groups para o Sudeste, realizar um bloqueio das bases petrolíferas na Bacia de Campos, realizar um bloqueio do porto de Santos, bombardear infraestrutura dos estados do Rio e São Paulo e em menos de um mês irámos pedir arrego. As carésimas forças armadas brasileiras, com seus gastos vultuosos com oficiais e suas filhas e viúvas pensionistas pouco poderiam fazer em resposta, mas como isso não alimenta a fantasia deles, é preciso criar algum mito que alimente.

Aí uma visão moderada e realista a respeito do nióbio perde força. A ideia por exemplo de tentar dar um corner no mercado de nióbio para trazer divisas para o país, embora eu não pense ser a melhor, não é tão absurda quanto parece a primeira vista. Quando a China resolveu começar a impor limites para a exportação de terras raras em 2009, o resultado, que era exatamente o que a China desejava, foi que fabricantes a indústria eletrônica consumidora desses insumos passou a se instalar lá ao invés de países concorrentes como a Coreia do Sul. Após ameaças da OMC impulsionadas pelos EUA, eles reverteram essa política em 2015, mas aí as linhas de produção já estavam lá e não há porque imaginar agora que os produtores investiram bilhões, eles vão deixar de produzir smartphones, baterias ou telas LED e migrar para outro país.

Fora que o nióbio paga ou pelo menos pagava pouquíssimo imposto. Enquanto o governo fica de olho na Vale, buscando inexoravelmente formas de espoliar a empresa, o nióbio que não tem cotação em bolsa e nem é exportado puro, mas como uma liga, tem sua base de cálculo não o seu preço fixado em negociações entre os grandes players, mas sim nos custos de produção das ligas exportadas. Acredito que isso não tenha mudado.

Nióbio está longe de ser uma tábua de salvação para o Brasil, porém, algumas medidas simples que poderiam trazer resultados concretos ficam sem serem implementadas em meio aos dois extremos que imperam no tema: o total descaso das autoridades brasileiras com qualquer coisa que não seja eleitoreira e os devaneios de militares que travestem interesses próprios em políticas desenvolvimentistas.